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Transformando Resíduos em Energia: Reaproveitamento de Finos de Carvão Vegetal no Mercado Xipamanine

Reaproveitamento de Finos de Carvão Vegetal em Maputo

Com cerca de 80% da população moçambicana ainda dependente de fontes energéticas tradicionais como lenha e carvão vegetal (FUNAE, 2012), a sustentabilidade do setor energético tornou-se um desafio estratégico. Na cidade de Maputo, o consumo elevado de carvão vegetal gera um subproduto muitas vezes ignorado: os finos de carvão, pequenos fragmentos e pó, frequentemente descartados sem qualquer aproveitamento.

“A gestão inadequada dos finos representa não apenas um desperdício energético, mas também um fator de degradação ambiental evitável.” (Chavana, 2014)

O Estudo

A pesquisa conduzida no Mercado Xipamanine Informal teve como objetivo avaliar o potencial de reaproveitamento desses finos por meio da sua compactação em briquetes. O mercado foi escolhido por ser um dos maiores pontos de receção e comercialização de carvão vegetal em Maputo, movimentando milhares de sacos mensalmente.

Metodologia Aplicada

O estudo baseou-se em quatro técnicas fundamentais:

  • Revisão bibliográfica sobre produção de carvão e degradação florestal
  • Entrevistas com os quatro vendedores oficiais do mercado
  • Mensuração direta de massa de finos em amostras de 11 sacos
  • Projeção estatística para estimar desperdício anual
Cálculo do desperdício anual:
Massa média de finos por saco = 8,5 kg
Número médio mensal de sacos internos = 350 sacos/mês

Finos/ano = 8,5 × 350 × 12 = 35.700 kg/ano

Produção Estimada de Briquetes

Com base nas dimensões padrão de briquetes cilíndricos (77 mm altura × 55 mm diâmetro), foi estimado o volume de um briquete individual e, consequentemente, o total possível a ser produzido com os resíduos de um ano.

Volume de um briquete: V = π × r² × h
V ≈ 3.14 × (2.75 cm)² × 7.7 cm ≈ 183 cm³ (0.183 L)

Massa média por briquete: ≈ 8.33 g (com densidade estimada de 0.45 g/cm³)
Briquetes por ano = 35.700.000 g ÷ 8.33 g = 4.284.400 briquetes

Modelo Matemático de Estimativa de Produção

A monografia propõe também um modelo matemático direto para estimar a quantidade de briquetes, baseado em dados empíricos de produção:

Fórmula:
QB = (QF × K) / m

Onde:
– QF = 35.700 kg (finos)
– K = 120 briquetes/kg
– m = 1 kg

QB = (35.700 × 120) ÷ 1 = 4.284.000 briquetes

Esse modelo de cálculo foi desenvolvido pelo autor do estudo com base em medições práticas no processo de briquetagem.

“A aplicação da fórmula QB = (QF × K)/m permite adaptar rapidamente o cálculo da produção a qualquer escala de coleta de finos, tornando o modelo viável em diversos contextos urbanos.” (JAMAL, 2019)
Este número de briquetes poderia substituir milhares de sacos de carvão tradicional, contribuindo para a redução do abate de árvores, poluição e custos energéticos domésticos.

Vantagens dos Briquetes

De acordo com Martins (2016) e Raposo (2015), os briquetes oferecem:

  • Maior densidade energética por volume (GJ/m³)
  • Menor produção de fumo e resíduos na queima
  • Facilidade de armazenamento e transporte
  • Possibilidade de produção local com baixo investimento

Impacto Ambiental e Social

A conversão dos finos em briquetes pode gerar emprego, promover o uso de energias renováveis e reduzir significativamente o desperdício sólido em mercados urbanos. A estimativa de 35,7 toneladas de resíduos por ano sendo reaproveitados é um exemplo concreto de economia circular aplicada a um contexto informal.

Recomendações

Recomenda-se ao Conselho Municipal de Maputo e a parceiros locais que:

  • Incentivem a instalação de pequenas unidades de briquetagem
  • Forneçam capacitação aos vendedores e operadores do mercado
  • Crie parcerias com universidades e centros de pesquisa

Este estudo comprova que os finos de carvão vegetal, frequentemente ignorados, têm um elevado potencial energético. A sua transformação em briquetes é viável técnica e economicamente, e pode contribuir significativamente para a sustentabilidade energética de Moçambique.

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Referências (estilo APA)

  • Chavana, A. (2014). Uso de carvão vegetal em Moçambique. Maputo: FUNAE.
  • FUNAE – Fundo Nacional de Energia. (2012). Relatório anual de consumo de biomassa.
  • Martins, A. (2016). Briquetagem de resíduos lignocelulósicos. Revista de Energias Renováveis, 4(2), 45–60.
  • Raposo, M. (2015). Aproveitamento energético de resíduos de carvão vegetal. Energia & Sustentabilidade, 3(1), 20–35.

🌿 Referência do artigo original

Jamal, G. (2019). Avaliação do Reaproveitamento de Finos de Carvão Vegetal Através da Produção de Briquetes na Cidade de Maputo: O Caso do Mercado Xipamanine Informal. Monografia de Licenciatura, Universidade Técnica de Moçambique.

Publicado por Brevemito.com

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